quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Salmo 01 - AS ALTERNATIVAS DA VIDA, DOIS CAMINHOS, DOIS COMPORTAMENTOS: O JUSTO E O ÍMPIO.

LIVRO UM. SALMOS 1.1-41.13

Nesta seção, o salmista louva a Deus por sua justiça e expressa confiança na compaixão do Eterno, cita a corrupção da humanidade e busca em Deus sua defesa, pedindo livramento dos inimigos, menciona a bem-aventurança do pecador que alcança o perdão. Retrata Deus como bom pastor.

Caracterização Geral

O livro de Salmos, tradicionalmente atribuído a Davi, é uma antologia de cânticos e poemas sagrados dos hebreus. Aparece na terceira seção do Antigo Testamento, chamada os Escritos (no hebraico, Ketubim). A palavra salmos é de origem grega e denota o som de algum instrumento de cordas. Seu nome, em hebraico, é tehillim, 'louvores'. Os temas dos salmos envolvem não somente louvores ao Senhor, mas também alegria e tristeza pessoais, redenção nacional, festividades e eventos históricos. O seu fervor religioso e poder literário têm conferido a essa coletânea uma profunda influência através dos séculos, e não menos no mundo cristão.
Tem havido intensa disputa entre os eruditos acerca da antiguidade e autoria desses salmos, e acerca de sua conexão com o rei Davi. Provavelmente foram compostos durante um período bíblico de mil anos ou mesmo mais. Dentre os cento e cinquenta salmos, setenta e três têm, no seu título, as palavras “de Davi”; e muitos deles foram compostos na primeira pessoa do singular. Alguns desses, ou porções dos mesmos, parecem ser de data posterior à do reinado de Davi. Entretanto, o cotejo com outras peças poéticas religiosas Oriente Próximo e Médio da mesma época geral sugere que alguns dos poemas atribuídos a Davi datam, realmente, do tempo dele. Sem importar o que os especialistas digam, é apenas natural que a crença popular tenha atribuído a obra inteira ao maior dos reis de Israel, um poeta e músico que se sentia em íntima comunhão com Deus.

Os salmos reverberam as mais profundas experiências e necessidades do coração humano, e assim exercem uma atração permanente sobre as pessoas de todas as religiões. Incorporaram o que havia de melhor nas formas poéticas dos hebreus, tendo-as desenvolvido, e eram acompanhados por um surpreendente desenvolvimento musical, com frequência usado para acompanhar a recitação dos salmos na adoração formal de Israel.

SALMO 1. 
AS ALTERNATIVAS DA VIDA, DOIS CAMINHOS, DOIS COMPORTAMENTOS: O JUSTO E O ÍMPIO.

Este Salmo, provavelmente, foi composto como uma Introdução ao Saltério. Cristaliza a crença, que tão frequentemente é expressa na coleção de poemas que se seguem, como também no livro dos Provérbios (por exemplo, Pv 2.12-20; Pv 4.14-18) e em muitas declarações de Cristo (por exemplo, Mt 7.13-14,24-27), de que os homens dividem-se em dois tipos ou classes- os piedosos e os ímpios. O comportamento de qualquer homem deve, pois, seguir uma de duas direções e aproximar-se de um dos dois padrões. A diferença entre eles, em forma e valor, é expressa nas figuras da árvore e da moinha: a divergência do seu caráter e do seu destino é declarada em termos de uma edificação constante ou de uma completa ruína. É, em parte, por esta razão que o segundo Salmo se considera muitas vezes associado com o primeiro, ambos sendo considerados como introdutórios porque ambos tratam de um assunto básico no Saltério, o comportamento e o destino dos homens bons e dos maus. O Salmo 1 apresenta o tema como um assunto pessoal; o Salmo 2 encara-o como uma questão nacional.

O caminho do homem piedoso é considerado neste poema, em primeiro lugar, por um reconhecimento das diferenças progressivas entre ele e o ímpio: não anda no conselho deles, isto é, não adota os seus princípios; não se detém no seu caminho, isto é, não imita as suas práticas do mal; nem se assenta em comunhão com eles, isto é, não toma o propósito de escolhê-los como seus associados. A vida piedosa, nos seus aspectos positivos caracteriza-se por uma concentração na lei (Dt 1.5), referindo-se aqui à vontade de Deus revelada. A qualidade desta vida é como a de uma árvore crescendo junto a um curso perene de água que produz abundante fruto por causa daquele sustento oculto, mesmo quando os ventos quentes ressecam tudo o mais (Jr 17.8).


Aquela vida que não tem raiz, e que não tem absorvido energia dos recursos de Deus, não é mais do que moinha, tão leve e sem valor que o vento do Espírito rapidamente espalha e dispersa. Não subsistirão (5). Note-se o contraste disto com a posição daqueles que, no vers. 1, não andam segundo o conselho dos ímpios. O Senhor conhece (6); isto é, tem interesse nos justos e observa-os. 


Todos os dias, o dia inteiro, fazemos escolhas, e em todo tempo devemos perseverar em escolher o caminho a nós revelado pelo Senhor: Jesus, o Justo, o Santo, Ele é o caminho, a Verdade e a Vida, só Ele tem palavras de Vida Eterna.  Jo 14.6 ; Jo 6.68.

Deus seja louvado!


sábado, 28 de setembro de 2013

SALMO 3 - DO SENHOR VEM O SOCORRO

SALMO 3. A ORAÇÃO MODIFICA AS COISAS

Autoria - Davi

Setenta e quatro salmos são atribuídos a Davi; dois a Salomão (Sal. 72 e 127); um a um sábio de nome Hemã (Sal. 88); um a um sábio chamado Etã (Sal. 89; quanto a esse, ver I Reis 4.31); um a Moisés (Sal. 90); vinte e três aos cantores levíticos de Asafe (Sal. 50; 73-83); vários aos filhos de Coré (Sal. 42, 43, 44-49, 84, 85, 87). Os quarenta e nove salmos restantes são anônimos.

Transliterado do Hebraico

Mizmor ledavid bevor’cho mipenê Avshalom beno. Adonai ma rabu tsarai, rabim camim alai. Rabim omerim lenafshi, ên ieshuáta lo velohim sêla. Veata Adonai maguen baadi, kevodi umerim roshi. Coli el Adonai ecrá, vaiaaneni mehar codsho sêla. Ani shachavti vaishána, hekitsoti ki Adonai yismecheni. Lo ira merivevot am, asher saviv shátu alai. Cuma Adonai hoshiêni Elohai, ki hikita et col oievai lechi, shinê reshaim shibarta. Ladonai haishuá, al amechá virchatêcha sêla

Os Salmos 3-5 estão relacionados como sendo orações da manhã e da tarde. O título deste Salmo indica que o mesmo foi escrito quando Davi fugia de Absalão, o usurpador. A tristeza de coração do rei (1) nasceu da surpreendente magnitude da rebelião (2Sm 15.13) e também do sentimento prevalecente entre o povo de que Davi não mais continuaria a receber auxílio de Deus (2), tão desesperada parecia a sua posição. A parte restante do Salmo distingue-se do sumário precedente da situação pela palavra selah, que sempre parece indicar uma mudança no modo, uma pausa no cântico ou uma alteração ao acompanhamento musical. Esta palavra foi inserida algum tempo depois do poema ser composto com o fim de o adaptar para o uso nos serviços do templo. Os versos 3-8, que exprimem a reação de Davi ao desenrolar esmagador dos acontecimentos, são uma manifestação sublime de inextinguível confiança em Deus.

Pode considerar-se o poema dividido em três partes.

1) Abatimento ao cair da noite (1-4)

Os acontecimentos sombrios do dia (1-2) são resumidos na oração da noite e deixados com o Senhor com a confiança de que Ele tem ouvido e prestado atenção. Tu, Senhor, és um escudo (3). Cfr. a promessa de Deus a Abraão (Gn 15.1). A confiança de Davi em Deus baseia-se na Sua fidelidade anterior, embora esta tenha estado associada com o Seu Santo monte (4), do qual agora Davi é obrigado a sair (Sl 2.6). Era este conhecimento do Senhor que lhe tornava possível dormir.

2) Fé vigorosa de manhã (5-6)

O Senhor me sustentou (5). A frescura e o vigor do corpo e a serenidade da fé com que o escritor acordou na manhã seguinte deviam-se a uma certeza implícita da misericórdia e do poder preservador de Deus. Isto não só despojou as circunstâncias pressagiosas de qualquer poder de intimidar como também deu motivo à reivindicação de um triunfo real sobre as mesmas. Isto é, como na seção anterior, uma descrição dos sentimentos pessoais é seguida de uma oração ao Senhor. Ver o contraste com 2Sm 15.30.

3) Um apelo a Deus (7-8)

Este apelo é motivado pelo perigo ainda existente mas é formulado como se a petição estivesse já concedida (Mc 11.24). Termina com uma afirmação da soberania divina no assunto da salvação que evoca uma benção final e intercessora. Esta benção deverá ser derramada contra o desapontamento sentido pelo povo nos vers. 1-2.

Davi estava em meio a grande perseguição e clamou ao Senhor, e o Senhor lhe respondeu. Muitas vezes não entendemos o agir de Deus, mas temos uma certeza: que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus.


Fonte:
Bíblia de Estudo e Aplicação Pessoal
Bíblia Comentada - F. Davidson
Bíblia Judaica Completa




quinta-feira, 26 de setembro de 2013

SALMO 2 - SALMO MESSIÂNICO

Tema: A Suprema lei de Deus. Um salmo escrito para celebrar a coroação de um rei israelita; uma alusão à coroação de Cristo, o Rei Eterno.
Autor: Davi

Parte superior do formulário
1  POR que se amotinam os gentios, e os povos imaginam coisas vãs?
2  Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o SENHOR e contra o seu ungido, dizendo:
3  Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas.
4  Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles.
5  Então lhes falará na sua ira, e no seu furor os turbará.
6  Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião.
7  Proclamarei o decreto: o SENHOR me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei.
8  Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão.
9  Tu os esmigalharás com uma vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro.
10 Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra.
11 Servi ao SENHOR com temor, e alegrai-vos com tremor.
12 Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam. 
Parte inferior do formulário

Este Salmo é geralmente considerado como messiânico mas foi baseado, pode-se dizer quase que com toda a certeza, numa ocasião histórica como a que nos é narrada em 2Sm 5.17(Ouvindo, pois, os filisteus que haviam ungido a Davi rei sobre Israel, todos os filisteus subiram em busca de Davi; o que ouvindo Davi, desceu à fortaleza) ou em 2Sm 10.6(Vendo, pois, os filhos de Amom que se tinham feito abomináveis para com Davi, enviaram os filhos de Amom, e alugaram dos sírios de Bete-Reobe e dos sírios de Zobá vinte mil homens de pé, e do rei de Maaca mil homens e dos homens de Tobe doze mil homens.) e seguintes. Uma situação semelhante é comemorada no Sl 83.5-8 (Porque consultaram juntos e unânimes; eles se unem contra ti: As tendas de Edom, e dos ismaelitas, de Moabe, e dos agarenos,  De Gebal, e de Amom, e de Amaleque, a Filístia, com os moradores de Tiro;  Também a Assíria se ajuntou com eles; foram ajudar aos filhos de Ló. (Selá.) mas a característica distintiva do Sl 2 está no seu discernimento da crise cósmica por detrás de um acontecimento de caráter nacional.
O poema representa o mundo inteiro organizado contra o Senhor em deliberada oposição ao Seu governo. Isto sugere uma diferença fundamental entre a perspectiva da terra e a do céu; daqui provêm o contraste entre a agitação e a futilidade dos povos em rebelião e a equanimidade e imutabilidade dos propósitos de Deus.

A conferência mundial (1-3)

A questão apresentada no vers. 1 é retórica e não analítica, por que qualquer revolta contra Deus é considerada sem fundamento. O furor das nações não é a fúria da ira concertada, mas o tumulto que resulta da disputa ruidosa entre gentes que imaginam coisas vãs, isto é, que se rebelam e fazem projetos vãos e ineficazes. Historicamente, o objeto do ataque dos ímpios era o ungido do Senhor, Davi (1Sm 24.6 “E disse aos seus homens: O SENHOR me guarde de que eu faça tal coisa ao meu senhor, ao ungido do SENHOR, estendendo eu a minha mão contra ele; pois é o ungido do SENHOR.” ); essencialmente, era o próprio Deus; profeticamente, era o Messias (At 4.25-27 “Que disseste pela boca de Davi, teu servo: Por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vãs? Levantaram-se os reis da terra, E os príncipes se ajuntaram à uma, Contra o Senhor e contra o seu Ungido.
Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel;”
  ).

A confiança celestial (4-6)

Só é possível avaliar verdadeiramente a situação discernindo a mente de Deus, que Se senta entronizado no Céu e contempla todo o tumulto da insurreição com a suprema confiança no ilimitado poder da verdade (2 Co13.8 “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade.” ). Então (5) tem uma força peculiar. Significa o fim do tempo da aparente liberdade do homem e o estabelecimento, na terra, do propósito divino. Tão certo está este clímax determinado que Deus pode permitir-se conceder séculos às nações rebeldes de modo que todos os planos delas possam amadurecer, todas as objeções possam ser utilizadas e toda a resistência possa ser tentada (Ez 33.11 “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis, ó casa de Israel?”). Então, na plenitude dos tempos, Ele intervém com ira (lit. "soprando com força pelas narinas") e no Seu furor (lit. "com ardente ira") e enuncia a Sua palavra enfática (Rm 1.18 “ Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda a impiedade e injustiça dos homens, que detêm a verdade em injustiça.”; 2Ts 2.8-13). Eu porém ungi o meu Rei sobre o meu santo monte (6; Hb1.2-3 “A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fez também o mundo. O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas;” ). O argumento de Davi, contra os que se lhe opunham, era que Deus o tinha indigitado para o trono, pelo que qualquer resistência que lhe fosse feita significava disputar com Deus (Sl 4.3).

A sua autoridade real (7-9)

Imagina-se que as nações rebeldes, reunidas em revolta tumultuosa sobre a terra, foram momentaneamente apaziguadas pela declaração divina que ecoa desde o Céu. No silêncio que se supõe seguir-se, o próprio Davi dirige-se aos reis e aos povos congregados. Em primeiro lugar, ele defende o seu reinado, como sendo autorizado pelo Senhor, com fundamento no parentesco (7), doação (8), e vocação, isto é, o poder de vencer (9). A frase Tu és meu Filho (7) encontra um paralelismo no Sl 89.26-27 (Ele me chamará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação.  Também o farei meu primogênito mais elevado do que os reis da terra.) e as palavras Eu hoje te gerei podem entender-se, historicamente, como fazendo referência ao dia da entronização de Davi. Foram porém verdadeira e completamente cumpridas em Jesus Cristo, como o Novo Testamento ensina. At 13.33 “Como também está escrito no salmo segundo: Meu filho és tu, hoje te gerei.”; Rm 1.4( “Declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos, Jesus Cristo, nosso Senhor,”)  declaram que Ele foi aclamado "Filho" pelo próprio fato da ressurreição. Hb 1.5 “Porque, a qual dos anjos disse jamais: Tu és meu Filho, Hoje te gerei? E outra vez: Eu lhe serei por Pai, E ele me será por Filho?”  e Hb 5.5 “Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei”; citam a frase, associando-a com a encarnação e o sacerdócio de Cristo. Alguns manuscritos, incluindo o Códice de Beza*, usam-na em relação com o batismo de Jesus (Lc 3.22 “E o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como pomba; e ouviu-se uma voz do céu, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo.”). Semelhantemente, a dádiva prometida das nações e dos domínios deste mundo veio a ser uma expectativa messiânica e desde há muito que se entende como dizendo respeito a Cristo. Ap 2.27(E com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai.)  cita o vers. 9 em ligação com "o fim", isto é, a vinda de Cristo em poder e glória (Ap 19.15 “E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso.”).

A ação razoável (10-12)

Na segunda parte do discurso de Davi, ele retrocede para a realidade da situação descrita nos vers. 1-3. Aquele perigo ainda não passou; a crise ainda não está resolvida; a elasticidade do divino Então (5) ainda não deu de si; os eventos futuros podem ainda ser moldados pelos homens. Esta é a razão do apelo feito aos reis e juízes da terra. Sede prudentes... Servi ao Senhor... beijai (isto é, prestai homenagem) ao Filho, porque, de outro modo, não poderá haver escape do desastre. 

Devemos render-nos e submeter-nos completamente ao Filho de Deus. Jesus não é somente o Salvador escolhido pelo Eterno, é também o legítimo Rei do nosso coração e da nossa vida. Para estar prontos para a sua vinda, precisamos submeter-nos à sua liderança todos os dias.


  

Fonte:
Bíblia de Estudo e Aplicação Pessoal
Bíblia comentada - F. Davidson
Wikipédia

Códice de Beza*: Ou Codex Bezae, também conhecido como Manuscrito 'D', pertence, provavelmente, ao século VI. Recebeu este nome por ter sido descoberto pelo teólogo francês Theodore Beza. É um manuscrito bilíngue: grego à esquerda e latim à direita, com pouca relação entre os conteúdos grafados em grego e em latim. A versão latina é ocidental e sofreu influências siríacas. Possui somente os quatro evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos. Notam-se várias lacunas textuais, principalmente no evangelho de Lucas; além de algumas adições, no livro de Atos. Atualmente encontra-se na Biblioteca de Cambridge.


domingo, 22 de setembro de 2013

EU NÃO TENHO NINGUÉM... (João 5.7)


“Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo. Jesus vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: ‘Queres ficar são?’. Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, eu não tenho ninguém, que ao ser agitada a água, me ponha no tanque, mas enquanto eu vou, desce outro antes de mim. Disse-lhe Jesus: ‘Levanta, toma o teu leito e anda. Imediatamente o homem ficou são e, tomando o seu leito, começou a andar” (O Evangelho sob a narrativa de João, 5.5-9)


Desde muito cedo em minha vida fui atraído pelo Evangelho sob a narrativa de João, pois li esta narrativa, pela primeira vez, quando tinha 9 anos de idade. Costumo referir-me a este livro da Bíblia desta forma, porque não concordo com o uso convencional no meio teológico, da expressão “os quatro evangelhos”. Embora, sob o ponto de vista acadêmico, pode-se aceitar a análise neotestamentária que aponta as narrativas de Mateus, Marcos e Lucas como sinóticas (similaridade ótica na exposição dos acontecimentos históricos na vida e ministério terreno do Senhor Jesus), e para a narrativa de João como assinótica (por sua dissimilaridade em relação às três narrativas supracitadas, no atinente à mesma vida e ministério terreno do Senhor Jesus), particularmente, creio ser mais coerente manter o pensamento paulino de 2 Coríntios 11.4b e Gálatas 1.6-8 sobre a essencialidade e singularidade do Evangelho de Jesus, o qual é único e axiomático. Paulo faz uso do adjetivo “ετερος” que aponta para um “outro/diferente” evangelho, o qual se contrasta com o adjetivo “άλλα” que se refere a “outro/igual”, com mesma qualidade e essência. Destarte, o apóstolo diz “...outro (ετερο) evangelho...o qual não é outro (άλλα). Ora, se é ετερος não é άλλα e, portanto, são diferentes e excludentes! Assim, se houvessem quatro, um seria o verdadeiro Evangelho e os outros seriam falsos. Por isso refiro-me aos escritores apenas como narradores do mesmo Evangelho, ou seja, o Evangelho sob a narrativa de Mateus, Marcos, Lucas, e João, o qual é o “...evangelho eterno...” (Apocalipse 14.6)


A narrativa de João, além de enfatizar seu objetivo temático, ou seja, Jesus como o Cristo profetizado no Antigo Testamento, pelos oito sinais criteriosamente selecionados como evidências incontestáveis (João 20.30,31), e também pelos contextos situacionais de diálogos entre Jesus e os que o recebiam ou rejeitavam, trata-se de uma denúncia contundente da falsa piedade da religião judaica, caracterizada, dentre outros flagrantes gritantes, pela indiferença e negligência com os pobres, necessitados, doentes e marginalizados, os quais viviam em situação abjeta, enquanto havia fartura na mesa do rei, dos sacerdotes e levitas, e dos escribas e fariseus. Observe que no primeiro verso o escritor diz que Jerusalém estava em festa! Em outros textos, João especifica o tipo de festa (Veja 6.4: Páscoa; 7.2: Tendas; 10.22: Dedicação), mas neste texto utilizou um termo genérico “uma festa dos judeus”, como uma denominação indefinida proposital, para enfatizar o olhar do lado de fora para o circulo fechado da fé que exclui, discrimina, e marginaliza os outros/diferentes!


“... e Jesus subiu a Jerusalém.” 


Este Jesus que sobe a Jerusalém e incorpora em si e através de si as lamentações de Jeremias sobre o reino do sul, tendo Jerusalém como sua capital, é o mesmo Deus do profeta, que lamentará sobre esta cidade, por sua alienação espiritual (Lc 13.34), seu autoengano religioso caracterizado por sua falta de amor. Ele é o verbo encarnado, o Deus do profeta Oséias que já havia passado por Samaria (capital do antigo reino do norte), e falado da Água Viva para a mulher samaritana, cumprindo a profecia do reencontro do “marido de amor ultrajado” que insiste na reconciliação com “sua mulher adúltera” (Israel), e agora sobe para Jerusalém, para reencontrar-se com Judá.
Ali havia um tanque chamado Betesda (do hebraico: “Casa de Graça”) e uma grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressecados. Aqui a denúncia do apóstolo sob a inspiração do Espírito profético aponta para uma multidão, no meio da qual ninguém tem nome, gente abandonada e, ao mesmo tempo, vitimada pela opressão da lei, impossibilitados de ver a Luz, de caminharem em direção à Luz e de viver uma vida produtiva e frutífera em sua interação social. Gente que jazia no ócio da castração psíquica e espiritual, na inoperância, na impossibilidade, na inércia, na invalidez, na esperança moribunda. Gente que orbitava ao redor do templo do icabode (Leia I Samuel 4.21), pois a glória do Senhor não estava lá há muito tempo! E por isso teria que se apegar à loteria da sorte do suposto agitar das águas de um tanque, por um suposto anjo.


“Achava-se ali um homem, que havia trinta e oito anos, estava enfermo.”


Os trinta e oito anos neste texto traz uma significação que vai muito além do tempo de suplício que este homem vinha sofrendo. Trata-se de um número que se referia ao ciclo de vida de uma geração. Veja Deuteronômio 2.14:


“E os dias que caminhamos, desde Cades-Barnéia, até passarmos o ribeiro de Zerede, foram trinta e oito anos...”


É um número que se aproxima do número quarenta, o qual serviu de ênfase denotativa tanto de tempo de opressão como tempo de paz e prosperidade em um reinado (Compare Juízes 13.1 e 2 Samuel 5.4).


Trinta e oito anos ali no meio da multidão, sofrendo a miserabilidade da rejeição social, do complexo de inferioridade, do complexo do não-ser por não ter nada e ninguém. Trinta e oito anos sabendo sem poder participar das festas cerimoniais dos judeus. Trinta e oito anos de invisibilidade social, marginalizado, excluído, esquecido na solidão acompanhada por muitos outros “ninguéns”. Trinta e oito anos como um alguém-ninguém que estava tão próximo dos religiosos que o distanciavam de qualquer contato afetivo, e obstruíam qualquer possibilidade de acesso às suas festas fartas.
Mas Jesus, que também é o mesmo Deus do profeta Amós, que profetizou contra a injustiça social, contra o descaso, a omissão e falsa religiosidade de Judá (Leia Amós 5.22-24), veio ao encontro deste pobre miserável. É interessante a atenção dada por Jesus a este homem:


“Jesus vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo...”


JESUS É O DEUS QUE VÊ E SABE!!!


Após Jesus perguntar-lhe se ele queria ficar são, o paralítico diz:


“SENHOR, NÃO TENHO NINGUÉM...”


Não há dúvida de que o Evangelho sob a narrativa de João está denunciando o pecado da negligência daqueles que se autodenominavam os guardiões da Torá (Jo 5.39); descendência de Abraão (Jo 8.33, 39), filhos de Deus (Jo 8.41), discípulos de Moisés (Jo 9.28). Mas, onde estavam os sacerdotes e levitas? Onde estavam os escribas e fariseus? Onde estavam os adoradores do templo que foram ensinados a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmos (Mc 12.29-31 cf. Dt 6.4,5 e Lv 19.18)? 


TODOS ELES QUE SE JULGAVAM SER O QUE ERAM, NA VERDADE SE TORNARAM NINGUÉM PARA AQUELE HOMEM, PARA AQUELA MULTIDÃO DE DESPREZADOS E, CONSEQUENTEMENTE PARA DEUS! PORQUE QUEM NÃO É PARA O PRÓXIMO TAMBÉM NÃO É PARA DEUS!!!


Enquanto os líderes religiosos julgavam “ser”, na verdade não “eram”, nem para o paralítico, nem muito menos pra Deus. 
Na carta aos romanos (Rm 2.11ª, 24 e 28-29), o apóstolo Paulo critica aquele que se denominava judeu, termo que era atribuído a si mesmo como um adjetivo que qualificava o sujeito como “aquele que louva a Deus”, dizendo que ao invés de o nome de Deus ser louvado, estava sendo escandalizado entre os gentios, e conclui seu pensamento dizendo que o verdadeiro judeu o é no coração, no espírito e não na letra.
De forma semelhante, o Senhor Jesus desmascara a performance religiosa e a “blasfêmia daqueles que se dizem judeus e não são, mas mentem, porém, são da sinagoga de Satanás.” (Ap 2.9)


“DIZER SER” NÃO SIGNIFICA “SER” DE FATO!


Na verdade as coisas que para nossa concepção "são", não são de fato para Deus. E as coisas que para nós "não são", são para Deus! Portanto, as coisas somente são quando são determinadas por Deus, porque somente DEUS É e só Ele pode, do nada, criar as coisas que realmente são!! Nós somos porque DEUS É e quis que fôssemos. Como uma antiga canção citada por Paulo, o apóstolo,


"Porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas." (Rm 11.36)


E ainda, como uma referência de Paulo a um trecho da filosofia estóica, em Atos 17.28, a qual ele atribui a Deus, diz:


"Porque Nele vivemos, nos movemos, e existimos...".


Para o paralítico não havia ninguém entre eles que fosse expressão de amor e solidariedade. O deficiente físico era ninguém para eles, e eles eram ninguém para o paralítico.
Mas Jesus que é, sempre foi e sempre será (Hb 13.8 e Ap 1., e que na narrativa de João se apresenta como o GRANDE EU SOU de Êxodo 3.14 (Leia com carinho e atenção João 6.35, 41, 48, 51; 8.12; 10.7,9; 10.11,14; 11.25; 13.13,19; 14.6; 15.1,5), vê aquele homem, sabendo seu estado, e age como ALGUÉM que pode curá-lo imediatamente! (Jo 5.9)


E VOCÊ E EU? SOMOS DE FATO ALGUÉM QUE DIZEMOS SER?
SE FORMOS ALGUÉM PARA DEUS, SEREMOS ALGUÉM PARA O PRÓXIMO!


ATÉ QUANDO O CLAMOR DE MILHARES DE DEFICIENTES FÍSICOS, DOENTES, POBRES E MARGINALIZADOS SERÁ NEGLIGENCIADO POR AQUELES QUE DIZEM SER SACERDÓCIO REAL (I Pe 2.9)?


Em Apocalipse 1.6 diz que Cristo Jesus “nos fez reino e sacerdotes para Deus, seu Pai...”. Nós aprendemos a invocar o Reino de Deus na oração do “Pai Nosso” (Lc 11.2), e buscar o Reino de Deus e a Sua justiça (Mt 6.33), mas será que, de fato, estamos sendo expressão palpável deste Reino de justiça e equidade?


Até quando ouviremos este grito de desespero e abandono: “EU NÃO TENHO NINGUÉM”?


Até quando milhares de pessoas, escravas do analfabetismo funcional, ávidas pelo acesso à educação, clamarão: “EU NÃO TENHO NINGUÉM”?


Até quando milhares de pessoas sofrerão o descaso da assistência médica, e continuarão aguardando em filas intermináveis de espera por atendimento médico, gemendo de dor e dizendo: “EU NÃO TENHO NINGUÉM”?


Até quando multidões de injustiçados esperarão pela justiça de causas que já foram ganhas há muitos anos, mas nunca recebem os seus direitos, e lamentam dizendo: “EU NÃO TENHO NINGUÉM”? 


Como disse o profeta Habacuque:


“Por que razão me fazes ver a iniquidade e a opressão? (...) Por esta causa a lei se afrouxa, e a justiça nunca se manifesta; porque o ímpio cerca o justo, de sorte que a justiça é pervertida.” (Hab. 1.4)


Até quando o Brasil continuará sofrendo pela insaciabilidade nefasta, insana, egoísta, inescrupulosa e nefanda desses monstros esclerosados, sem nenhum sentimento, apáticos, e de consciência cauterizada? ATÉ QUANDOOOOOOO???!!! 


Até quando a ignorância e a miséria, que oprimem nossa nação, continuarão sendo a alimentação e retroalimentação da hegemonia da malignidade sádica,despótica, perversa e avassaladora? ATÉ QUANDOOOOOOO???!!! 


Até quando nossas doenças psicossomáticas, engendradas pela apatia funesta e descaso consciente desses corruptos-corruptores, continuarão sendo suas garantias de atendimento médico nos melhores hospitais do Brasil e do mundo? ATÉ QUANDOOOOOOO???!!! 


Até quando ficaremos algemados e amordaçados pelo espírito do ser-sempre-colonizado, sempre passivos à exploração e à humilhação? Até quando nos sujeitaremos ao fatalismo que sempre se rende de forma acrítica às imposições da manipulação tirana desses narcisistas avarentos? ATÉ QUANDOOOOOOO???!!!


Queremos uma CPI rigorosa, imparcial, que faça justiça, colocando na cadeia essa corja de ladrões, confiscando todos os bens e fortunas adquiridos de forma desonesta, e o ressarcindo ao povo brasileiro os milhões e milhões de reais que dia após dia são desviados, deixando milhares de brasileiros marginalizados, sem acesso à educação, à saúde, à moradia, e, sobretudo, à sua dignidade e verdadeira cidadania.


Queremos justiça e equidade!


NÃO HÁ NINGUÉM?


Em meio a esta multidão de gente que professa pertencer ao Reino de Deus, onde estão aqueles que assimilaram o Evangelho do Cristo vivo, e que por meio de Seu Espírito em amor, não tendo suas vidas por preciosas, e estarão dispostas a ouvir e atender a este clamor: “EU NÃO TENHO NINGUÉM”?


NÃO HÁ NINGUÉM?


Onde estão os advogados de Cristo, os médicos de Cristo, os pedagogos de Cristo, os dentistas de Cristo, os engenheiros de Cristo, os cientistas de Cristo, os empresários de Cristo, empregados de Cristo que trabalham como ao Senhor, as diaristas de Cristo, os coletores de lixo de Cristo, os pais, as mães, os filhos, a família de Cristo? Onde estão os pastores e ministros de Cristo?


NÃO HÁ NINGUÉM?


O Brasil está no ápice entre os países mais corruptos do mundo, com um alto índice de analfabetismo funcional, com vereadores inescrupulosos vendendo diplomas para pessoas de mau caráter que querem "se dar bem". Quando é que, de fato, aqueles que professam a fé no Evangelho do Reino, sairão à luta, no cumprimento de sua apostolicidade, voz profética que denuncia a corrupção política e político-eclesiástica, de proclamação do Evangelho de libertação (não apenas para salvar as almas, mas também o espírito e o corpo!). Se as instituições evangélicas estivessem, de fato, sendo expressão encarnada de Cristo no mundo, com certeza teríamos pessoas se dando em amor para fazer o melhor na política e, consequentemente, na educação, na saúde, e numa vida comunitária que desfrutasse da justiça e da equidade!
Gastaríamos muito menos dinheiro e tempo com construções de templos faraônicos, e investiríamos em "pedras vivas" (I Pe 2.5), em "templos do Espírito Santo" (I Co 3.16; 2 Co 6.16; Ef 2.20-22, formando soldados com grande habilidade de utilizar "as armas da nossa milícia" (2 Co 10.4-5), os quais dedicariam o seu maior tempo no 'campo" que é o mundo (Mt 13.38a), lutando contra as fortalezas de Satanás que atuam no campo da mente (2 Co 4.4). Se o nosso povo brasileiro não for educado, continuará sujeito ao psiquismo coletivo da autocomiseração de gente sempre subalterna e passiva ante à opressão.
"Imediatamente o homem ficou são; e, tomando o seu leito, começou a andar." João 5.9


O Evangelho genuíno é a manifestação do amor de Deus por meio de Jesus Cristo, que se aproxima, dialoga, liberta e promove a dignidade humana, reinserindo o indivíduo marginalizado, no meio social, dando-lhe mobilidade para caminhar com os seus próprios pés.


Todo aquele que crê e está nele, encarna em si e por meio de si, o poder transformador do Evangelho!


Com a restauração dos atributos da personalidade (razão, vontade e autoconsciência) por meio do Evangelho poderoso de Cristo, pois os mesmos são subordinados à mente de Cristo (I Co 2.16b), ao sentimento de Cristo e vontade de Deus (Fp 2.5 e Rm 12.1-2), sem dúvida alguma, seremos cooperadores de Deus para a libertação de nossa nação de sob este jugo nefasto da corrupção e opressão!


ASSIM COMO O SENHOR JESUS VIU E SOUBE SOBRE O ESTADO DAQUELE HOMEM, ELE VÊ E SABE DO SOFRIMENTO E CLAMOR DE MULTIDÕES AFLITAS E OPRIMIDAS. ELE VÊ E SABE ONDE ESTÃO OS SEUS POUCOS “ALGUÉNS” QUE VERDADEIRAMENTE SE IMPORTAM E SE EMPATIZAM COM A DOR DE SEUS SEMELHANTES!
QUE O SENHOR NOS GUARDE DA HIPOCRISIA DA FALSA FÉ NO EVANGELHO!!!


OBS.: ESTA REFLEXÃO FAZ PARTE DE UMA SÉRIE DE MINHAS MINISTRAÇÕES BÍBLICAS COM BASE NO EVANGELHO DE JESUS, SOB A NARRATIVA DE JOÃO.


Texto de VALTER CARVALHO DA SILVA

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pecado, Perdão e Apostasia

Pecado 

No grego é "amartia", Esse termo é derivado de uma raiz que indica “errar o alvo”, “fracassar”. Trata-se do fracasso em não atingir um padrão conhecido, mas antes, desviando-se do mesmo. Essa palavra, porém, veio a ter também um significado geral, indicando o princípio e as manifestações de pecado, sem dar qualquer atenção a seu significado original. O trecho de I João 3.4 usa o vocábulo anomia, “desregramento”, desvio da verdade conhecida, da retidão moral. O pecado tanto é um ato como é uma condição. É o “estado” dos homens sem regeneração, que se manifesta na forma de numerosos e perversos atos. Pecar é afastar-se daquilo que Deus considera a conduta ideal, do homem ideal, exemplificado em Jesus Cristo. Isso conduz à “impiedade”(asebeia; II Pedro 2.6), que consiste na oposição a Deus e a seus princípios, em autêntica rebelião da alma. E isso leva à “parabasis”, “transgressão” ( Mt 6. 14 e Tg 2.11) contra princípios piedosos reconhecidos. Isso leva o indivíduo à “paranomia”, a  “quebra da lei”, o  “afastamento” da lei moral ( Atos 23.3 e II Pedro2.16). Nossos pecados também são “passos em falso”, Isto é, “paraptoma”, no grego ( Mt  6.14 e Ef  2.1). Propositadamente “caímos para um lado”,  “desviamo-nos pela tangente”, apesar de estarmos instruídos o bastante para não fazê-lo.

Desse modo, o N.T. descreve o pecado sob boa variedade de modos, cada um deles como o uso de um quadro falado sobre o que isso significa. Cristo Jesus é a cura de cada uma dessas manifestações do pecado, pois a sua expiação apaga a dívida; e a santificação em Cristo transforma o pecador, para que seja um ser santo e celestial. E Deus é fiel e justo, conferindo  esse imenso benefício aos homens que se submetem a ele, isto é, que exercem fé em Cristo e ao seu mundo eterno ( Hb 11.1).

O pecado é a transgressão da Lei Espiritual. O autor sagrado oferece-nos uma definição possível de “pecado”, bastante lata, mas não a única possível. O pecado pode ser praticado por omissão (Tg 4.17); e os pagãos, que não tinham lei , no sentido de uma legislação divinamente dada, mesmo assim pecavam (ver o segundo capítulo da epístola aos Romanos). A “lei”, neste caso, certamente é a “lei mosaica”, e não a nova lei do Espírito, revelada no evangelho. Porém, apesar de poderem ser dadas outras definições de pecado, o autor sagrado não estava interessado em qualquer delineamento completo do que pode ser o pecado. Para o seu argumento, bastava que o chamasse de “transgressão da lei” e todos entendemos.

A Natureza do Pecado

1. O pecado é cósmico em sua natureza. Nenhum ser humano peca sozinho. O pecado sempre fará parte de uma rebelião cósmica contra Deus e contra a retidão. I João 3.8 enfaticamente assevera que aquele que “pratica o pecado” é do diabo. Esse ser maligno é intitulado “o deus deste mundo” (II Co 4.4), e muitos são seus súditos e escravos. Será necessária uma providência cósmica para remover o pecado, e o julgamento tomará conta disso.
2. Mas o pecado também é pessoal. Embora as forças satânicas forneçam a agitação (Ef 6.11 e ss), o indivíduo é responsável pelas suas ações, e, portanto, ele é convocado a arrepender-se. O homem não pode alterar o quadro cósmico, mas pode ser pessoalmente redimido.
3. Sem importar se cósmico ou pessoal, o fato é que o pecado é, definidamente, uma questão de rebeldia. O pecado tem por escopo destruir uma alma eterna ( I Pd 2.1). O pecado é algo muito mais sério do que aquilo que gostamos de pensar a seu respeito.
4. Foi preciso a missão de Cristo para dar solução ao problema do pecado (Rm 5. 1; Cl 1.20 e Ef 1.10).

Como é que Todos Pecaram, Rm 5. 12

1. Alguns intérpretes dizem: “Em Adão...”, isto é, todos os homens participaram, em Adão, do pecado 
original, e contra esse pecado é que o juízo foi proferido. Essa ideia é frisada por causa da analogia com o ato isolado de justiça que nos outorgou a justificação. A expiação de Cristo foi exatamente esse ato, mediante o qual somos justificados, e não mediante inúmeros atos de justiça que porventura pratiquemos. Por semelhante modo, somos julgados por causa de um único ato - o pecado de Adão – do qual todos participamos. Há evidências rabínicas em favor dessa ideia.
2. Outros afirmam que Rm. 5.12 fala de pecados individuais (e essa opinião é esposada pela maioria dos intérpretes).
3. Talvez seja melhor misturar esses dois pontos vista. O homem nasce com o pecado original. Ele pecou em Adão. Mas cada indivíduo também tem seu próprio pecado. E ambas as modalidades o condenam. Isso está em concordância com os princípios ensinados em Romanos 2.6, o de que cada um será finalmente julgado de acordo com suas próprias obras.

Como a Graça Opera, a Fim de Nos Dar Vitória Sobre o Pecado Rm 6.14

1. A palavra “graça”, neste caso, refere-se ao sistema espiritual da graça, em contraste com o sistema da lei. Sob Moisés, os homens receberam um conhecimento para eles elevado demais. Ficaram sabendo o que havia de errado, mas foram deixados sem poder para resistir ao pecado. De fato, a lei revigorou-o pecado. Sob a graça, pelo contrário, o ministério do Espírito nos é conferido, pois ele é o alter ego de Cristo, o qual faz de nós o seu templo (Ef 2.20), e, dessa forma, nos transforma.
2. O método mosaico era «legalista», isto é, consistia em uma lei que exigia coisas dos homens, não entendendo, gerava o orgulho humano. Abria caminho para os méritos humanos como maneira de considerar-se a obtenção da salvação. Portanto, não podia prover aos homens o dom divino, a saber, a salvação da alma.
3. O caminho do Espírito é sobrenatural, Esse vocábulo, consoante à sua definição mais básica, significa que entramos em “contato” com algum poder superior, especificamente, Deus, o Espírito Santo, Cristo. Esse contato capacita-nos a cumprir os requisitos da retidão, não com perfeição impecável, mas com vitórias sobre o vício e o pecado.
4. No trecho de Rm 6.12, demos notas sob o titulo “Como pôr fim a esse reino do pecado”, onde há certo número de sugestões que têm aplicação aqui. Assim perceberemos que tais meios, todos eles em seu conjunto, foram providos pelo poder do Espírito, o qual é o agente do “método da graça” da salvação.
5. O trecho de Rom. 8:2 fala sobre a “lei do Espírito” que opera em nós; e é através desse novo princípio que obtemos a vitória. Essa nova lei foi escrita em nossos corações, pelo que se torna em uma característica dá alma, e não mero conhecimento mental (II Co 3.3 quanto a esse conceito).
6. O Espirito Santo é o poder por detrás dos meios de desenvolvimento espiritual. O método da graça opera através de tais meios.
7. Obviamente, o método da graça abre a provisão necessária para a santificação, uma importantíssima realidade e doutrina cristã ( I Ts 4.3).
8. O alvo maior das operações do Espírito, o que, paralelamente, é o aspecto mais elevado da salvação, é a transformação do indivíduo segundo a própria imagem de Cristo, de tal modo que o crente vai passando de um estágio de glória para outro, em contínua ascensão. (II Co 3.18).
 E obvio que a pessoa assim beneficiada, dificilmente se vê sujeita ao reino do pecado.

Perdão dos Pecados

1. É conferido exclusivamente por Deus (Mc 2.7).
2. Alicerça-se sobre a expiação pelo sangue (Hb 9.22; Ef 1.7).
3. É dado por meio de Cristo (Lc 1.69,77).
4. E exibição das multiformes misericórdias de Deus (Ef 1.7; Is 55.7 e Rm 5.20).
5. Consistem em serem apagadas nossas transgressões (Is 44.22), com total olvido das mesmas por parte de Deus (Hb 10.17).
6. Restaura o pecador diante de Deus (Is 44.22).
7. É o começo da salvação, além de ser condição necessária para a mesma (Rm 4.8).
8. Mas a salvação não consiste apenas no perdão de pecados e na transferência de endereço para os céus, como, algumas vezes, a salvação é definida. O perdão é apenas o começo, e jamais o fim ( Hb 6.1-3).
Segue-se a isso a santificação, como um resultado natural e necessário (I Ts 4.3). Segue-se, obrigatoriamente, a participação nas virtudes de Cristo ( Gl 5.22,23). Nisso tudo ocorre a transformação moral do ser, o que, por sua vez, provoca a transformação metafisica. Dessa forma o crente vem a participar da imagem e da natureza de Cristo ( Cl 2.10 e Rm 8.29). Isso é uma operação do Espírito (II Co 3.18). A participação na natureza divina é a principal característica da salvação (II Pd 1.4).

Graduações do Pecado

1. Alguns crentes, naqueles momentos que fazem experiências com a teologia popular, supõem que não há gradação no pecado. Em outras palavras, “pecado é pecado”, dizem, “e todos os pecados são igualmente maus diante de Deus”.
2. Essa opinião, entretanto, nega o princípio exarado em Rm 2.6, que diz que cada indivíduo será julgado de conformidade com as suas próprias obras, e que o próprio crente será julgado segundo o que tiver praticado, de bom ou de mau, através do seu corpo (II Co 5.10).
3. Essa teologia popular também nega a base mesma da lei da colheita segundo a semeadura (Gl 6.7,8).

O Reino do Pecado

1. O pecado, fortalecido pela lei, transformou-se em um tirano universal; prometia benefícios, mas dava aos homens a morte física e a espiritual (Rm 6.3).
2. A morte é merecida, conforme fica claro na referência bíblica acima. Os homens se aprovam mutuamente,  encorajam uns aos outros, ao mesmo tempo que ganham esse horrendo salário (Rm 1.32). Isso prova o quanto o pecado se tomou em um tirano, a ponto que os homens sejam enganados e cheguem mesmo a gostar daquilo que praticam. O tirano os submeteu a uma lavagem cerebral tão completa que eles, mesmo quando reconhecem que estão praticando o que é errado, e mesmo quando podem antecipar seus resultados, não podem controlar-se.
3. Esse tirano domina o corpo inteiro (o que explica as ações da alma) e reduz os homens a totais escravos (o que é a mensagem do sexto capitulo de Romanos),
4. O pecado obriga os homens a fazerem coisas irracionais e absurdas, mas os homens não têm força de vontade contra isso. Alguém disse uma verdade: “Senhor, temos conhecimento; o que não temos é força de vontade”.
5. O que os homens se recusam a fazer habitualmente torna-se para eles uma impossibilidade moral. Ou aquilo que os homens fazem de errado habitualmente extrai de suas consciências o senso da pecaminosidade do pecado.
6. Os pensamentos se transformam em hábitos; os hábitos se tornam em caráter; o caráter determina o destino.

Pecado Imperdoável - Mateus 12.32

"Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do homem, isso lhe será perdoado, mas quem falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste mundo, nem no porvir"

A rejeição a Cristo conduz ao julgamento - eterno. Os homens rejeitaram-no então, como continuam a fazê-lo agora. Mas, o pecado aqui em foco, ainda que tenha o mesmo resultado, é muito diferente desse. A quinta interpretação só admite a possibilidade desse pecado nos dias de Cristo, pois só naquele tempo havia possibilidade de atribuir as obras de Cristo, feitas pelo poder do Espírito Santo, a Satanás. A ausência de Jesus desta terra impossibilita que se cometa tal pecado hoje em dia, ainda que os homens rejeitem a Cristo. O julgamento sobrevirá fatalmente contra aqueles que, em sua incredulidade, não aceitarem a Jesus, os quais, por isso mesmo, também rejeitam as obras e a influência do Espírito; e o resultado será idêntico. A diferença é que consideramos impossível que alguém pudesse cometer esse ato atualmente. Assim sendo, conclui-se também que os que rejeitam agora a Cristo não se tornam incapazes de aceitá-lo depois, embora isso talvez se torne impossível em decorrência do processo de endurecimento do coração, por motivo de incredulidade e da rejeição à influência do Espírito Santo. Mas, no juízo final, o resultado será o mesmo; os meios para alguém chegar a ele é que são diferentes.

“Não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir”

Fica subentendido que o perdão, impossibilitado nesta existência terrena, por causa da blasfêmia contra o Espírito Santo, não poderá ocorrer na vida além- túmulo. Talvez as próprias palavras, se não levarmos em conta o sentido dado pela literatura judaica, possam ter esse sentido; a intenção do ensino, como é óbvio, é provar justamente a impossibilidade do perdão após a morte.

Pecado Voluntário

Hb 10.26: Porque se voluntariamente continuarmos no pecado, depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados,

O ponto de vista do autor é de que não há remédio para a “apostasia”, o que certamente ele entendia como um dos pecados deliberados, sendo destacado como tal dentro deste versículo. Na realidade, nada havia de novidade nesse ponto de vista; era opinião comum entre os rabinos, com base no A.T. ( Nm 15.24-31). Somente os pecados de “ignorância” poderiam ser expiados; se um homem pecasse teimosamente, com pleno conhecimento de sua maldade, mas deliberadamente prosseguisse, não haveria mais sacrifício em seu favor; simplesmente ficaria “cortado” ou exclui do povo. Sua iniquidade permanecia sobre ele (ver o versículo 31); e isso significaria que ele entraria no outro mundo sem perdão, perdido. Todavia, não sabemos como eram determinados quais eram os pecados de ignorância e quais eram os deliberados.
Se viermos deliberadamente em pecado. O grego diz, simplesmente, “pecarmos deliberadamente”. O termo grego “ekousios” indica  “de própria e livre vontade”, “voluntariamente”. Portanto, não temos exatamente uma tradução neste ponto, e, sim, uma interpretação.

Do que Consiste O Pecado Voluntário

1.Os tradutores ou revisores de nossa versão portuguesa dão a impressão de que qualquer pecado pode ser praticado “deliberadamente”, a propósito, de tal modo que o individuo passa a “viver no pecado”. Isso está de acordo com certas indicações que aparecem no A.T.
2. Mas também podem estar em foco certos pecados seríssimos e agravados, cometidos com pleno conhecimento de causa; segundo o presente texto, que fala em “...depois de termos recebido o pleno conhecimento da verdade...”, isso só pode suceder depois que alguém ouviu e recebeu o evangelho. Essa é uma ideia razoável, mas nada existe no contexto, ou no pano de fundo do A.T., que a sugira.
3. Outros estudiosos supõem que o sentido é que qualquer pecado, de qualquer classe, se for cometido voluntariamente, após alguém chegar ao conhecimento da verdade, segundo ela se acha em Cristo, não pode mais ser perdoado. Porém, apesar de talvez podermos ver esse sentido na passagem do décimo quinto capitulo do livro de Números, e até mesmo aqui, se ficarmos com a simples declaração que aqui se acha, sem injetar qualquer interpretação, isso não poderá ser feito. E ainda que o autor sagrado tivesse dito isso, estaria equivocado, pois, nesse caso, ninguém poderia jamais ser salvo, pois quem é aquele que, depois de ter conhecido e recebido a mensagem cristã, não tem cometido deliberadamente muitos pecados?
4. Em consonância com o presente contexto, e levando em conta uma advertência similar já feita (Hb 6.4 e ss), o pecado voluntário parece ser o "da  apostasia, em que o individuo abandona a fé cristã, retornando aos caminhos pagãos ou ao judaísmo. Essa interpretação está em total harmonia com a mensagem central do tratado, e provavelmente é o que está em foco aqui. Contudo, não entra em contradição com a explicação de número  “um”. O autor sagrado veria a apostasia como um processo progressivo; começa na indiferença, continua na lassidão moral e termina na apostasia. Portanto, o autor sagrado incluiria a primeira explicação, ainda que não seja essa a questão primariamente em foco aqui.
5. Seja como for, a advertência é feita a crentes, pois ele não se dirigia a alguma audiência fantasma. Em Hb 3.6b. O autor sagrado, sem importar se gostamos disso ou não, cria que a apostasia é possível, que ela é fatal, sem reversão e sem expiação. Uma grande parte da igreja cristã tem anulado estes ensinos. Alguns poucos teólogos continuam afirmando estas opiniões. Outros, rejeitando estas ideias, forçam o autor a não ter, igualmente, estas noções; mas nisso demonstram ignorância sobre a teologia judaica, que forma a base dos pontos de vista do autor sagrado, os quais, segundo a literatura rabínica o demonstra, consubstanciavam ambas essas ideias. (Hb 6.4).

As passagens de Hb 7.27; 9.12,26,28 e 10.10 mostram a convicção que tinha o autor sagrado de que o sacrifício único de Cristo é o sacrifício final e perfeito. Nada pode ser acrescentado a essa perfeição. Se rejeitarmos o sacrifício perfeito, simplesmente perdemos o perdão. A apostasia é uma maneira de rejeitarmos esse sacrifício, ainda que por algum tempo tenha sido o mesmo aceito. Naturalmente, nesse particular, o autor sagrado impõe certa limitação sobre a nova aliança e seu sacrifício, que não é reconhecida no resto do N. T., e que certamente não é válida. Não há ocasião em que um homem, sem importar o que tenha feito, mesmo que tenha desprezado a Cristo, depois de tê-lo recebido, em que não possa ser perdoado. A paixão e a intensidade do autor, em salvar os seus leitores da apostasia, são atitudes amáveis. O trecho de Hb 6.4, aborda mais profundamente essa questão. Há muitos Pedros que, depois de terem negado a seu Senhor, retornam. E haverá maior número dessas restaurações. O amor de Deus não apenas atinge a mais alta estrela; também atinge o mais profundo inferno.


Tudo isso vemos que o pecado leva a escravidão e morte eterna, e a graça de Deus alcança o homem para perdoá-lo e dá vida eterna. O perdão é o começo da caminhada ao céu, que poderá ser interrompida pela apostasia.



Nota: Para os rabinos a expressão agora, ou seja, o presente, indicava "antes da vinda do Messias, e porvir, indicava, depois da vinda do Messias.

Fonte:
Bíblia Sagrada - Biblia de Aplicação Pessoal - Revista e Corrigida João F. de Almeida
Bíblia Judaica Completa - O Tanakh (AT) e a B'rit Hadashah (NT) - Tradução: Rogério Portella e Celso E. Fernandes
O Novo Testamento Interpretado - Camplin, Rossell Norman, 1979