DECÁPOLIS
No grego, «dez cidades».
No Novo Testamento, o termo denota uma área geográfica onde havia dez cidades
próximas umas das outras, e unidas por certos costumes e por uma certa população.
Quase todos os seus habitantes eram gentios, com instituições e privilégios cívicos
comuns. O sentido original pode ter sido político, dando a entender uma liga de
dez cidades, que se formou durante o período entre a dominação de Herodes sobre
a área e a estabilização da fronteira leste romana, nos primeiros dias do domínio
imperial na região. A área envolvida ficava a leste do Jordão, incluindo uma
parte da Galiléia. A região incorporava a maior parte do lado oriental do mar
da Galiléia, em sua extremidade norte. Uma porção da mesma, não muito longe,
abaixo do lago, estendia-se até à margem ocidental do rio Jordão, onde ficava
situada a cidade de Citópolis, que fazia parte de Decápolis. Porém, a porção
maior ficava a leste do rio Jordão. Para o extremo sul ficava a cidade de Filadélfia,
que ficava quase tanto ao norte quanto Jericó. Jericó ficava localizada quase
na extremidade norte do mar Morto, e Filadélfia ficava mais para o oriente.
AS DEZ CIDADES
Essas eram Hipos (na margem oriental do mar da Galiléia), Damasco (um pouco mais ao norte), Rafana, Canata (no extremo leste), Diom,
Gadara, Citópolis (no extremo oeste), Pela,
Gerasa e Filadélfia (no extremo sul). Do extremo norte ao extremo sul, a
área cobria cerca de 190 km. De Dã a Berseba, os tradicionais pontos extremo norte-sul
da antiga Israel, a distância era de cerca de 240 km. Portanto, Decápolis tinha
quase as mesmas dimensões de Israel, a diferença sendo, essencialmente o
comprimento do mar Morto.
Decápolis surgiu como
um subfenômeno da dispersão do período helenizante. Houve grande imigração de
gregos após as conquistas de Alexandre, o Grande. Isso significa que aquelas
cidades foram construídas pelos gregos e reconstruídas pelos romanos. Duas
dessas cidades, Diom e Pela, tem nomes tipicamente macedônios, sendo provável
que tivessem sido erigidas por oficiais
associados a Alexandre. Filadélfia
ocupava o local de Rabate-Amam, do Antigo Testamento, a mesma Amam que é capital
da Jordânia moderna. Era quase tão antiga quanto aquelas outras duas cidades.
Gadara também era um antigo povoado grego, e essas duas cidades eram
fortalezas, pelos fins do século lII A.C. Gerasa tem sido amplamente
confirmada, quanto aos informes bíblicos a seu respeito, pelas descobertas
arqueológicas. Porém, juntamente com Hipos, não parece ter tido posição
especial senão já no período da dominação romana. Damasco é uma das mais antigas
cidades do mundo.
A área, desde há
muito, vinha sendo controlada pelo governador da província romana da Síria, com
as adaptações apropriadas ao governo romano de áreas externas ou de fronteiras.
Roma protegia aquela região e paralelamente ela servia de área desértica de fronteira,
servindo de proteção contra inimigos além dos limites do império, onde as
grandes rotas de caravanas e estradas comerciais faziam uma curva em tomo da
curva interna do chamado Crescente Fértil. Cada uma dessas dez cidades servia de
uma espécie de cidade-estado, pelo que as Arcas ao redor eram governadas e
controladas por elas, conferindo ao império romano autoridade sobre quase a
totalidade do território de Israel. Essas cidades, com sua grande maioria
populacional gentílica, eram cosmopolitas em sua natureza. Gadara produziu Filodemo,
o filósofo epicúreo do século I A.C. Meleager, o epigramatista, nasceu ali,
como também Menipo, o satirista, e Teodoro, o retórico, que foi tutor de
Tibério. Gerasa tornou-se conhecida como cidade nativa de vários mestres da
antiguidade bem conhecidos. A arqueologia tem demonstrado a natureza não-judaica
da área, com seus templos, anfiteatros, artes, jogos atléticos e literatura. A presença
desse tipo de cultura, naturalmente, influenciou e modificou a vida na
Galiléia. Olhando na direção do mar da Galiléia, os agricultores judeus podiam ter
uma boa visão do que era o mundo gentílico e romano. A história do filho
pródigo, narrada por Jesus, ilustra como um jovem, impressionado pelo mundo
grandioso ao seu derredor, e enfadado pela vida monótona dos agricultores,
viajou até um país distante, a
fim de buscar fortuna e gastar, divertidamente, o seu dinheiro.
Jesus exerce forte
impacto sobre Decápolis. No começo de seu ministério ( “E seguia-o uma grande
multidão da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia, e de além do
Jordão” Mt 4.25), ele era seguido por grandes multidões. Jesus entrou
na área de Gerasa (“E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros,
um homem com espírito imundo;” Mc 5.2). Orígenes chama essa
cidade de Gergesa. Ali encontramos a história dos porcos que morreram afogados.
Os judeus geralmente não criavam esses animais. Quando os demônios entraram
neles, a vara de porcos perdeu-se inteiramente, resultando isso no fato de que
os habitantes locais rogaram a Jesus que abandonasse a região. Posteriormente,
Jesus tomou a visitar a região, e fez um desvio incomum através da região de Hipos,
a caminho de Sidom, até às praias orientais da Galiléia (“E ele, tornando a sair dos termos
de Tiro e de Sidom, foi até ao mar da Galiléia, pelos confins de Decápolis.” Mc 7.31). E quando os exércitos romanos avançaram, por ocasião da primeira
rebelião dos judeus, e assediaram a cidade de Jerusalém, o que resultou em sua
quase completa destruição (66-70 D.C.), os cristãos retiraram-se para Pela.
Dessa maneira, a comunidade cristã judaica, como um todo, foi poupada da ira
dos romanos, nessa ocasião, somente tendo que enfrentá-la um pouco mais tarde. Há
algo de apropriado quanto ao fato de que a Decápolis greco-romana ficava
contígua e cercava Israel, e que o Salvador dos homens ministrou tanto em
Israel quanto em Decápolis. Finalmente, o apóstolo Paulo foi capaz de dizer
que, em Cristo, não há tal coisa como homem e mulher, livre ou escravo, judeu
ou gentio-pois todos somos um, em Cristo (“Nisto não há judeu nem grego; não
há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo
Jesus.” Gl 3.28).
Fontes:
Bíblia Sagrada
Enc. de Bíblia Teologia e Filosofia - Champlin
Geografia e Arqueologia Bíblica - José Sanches V. Neto
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